Enquanto a ecologia transforma diariamente nossos conhecimentos sobre a natureza, a etologia continua modificando nossas impressões e teorias sobre os outros animais. Já sabemos que a atuação animal não é governada incondicionalmente por impulsos instintivos, que buscam uma satisfação automática. O comportamento é organizado e organizador, em um grande número de espécies, guiando-se por um avançado sistema de comunicação. Muitos animais produzem mensagens e expressões que definem comportamentos específicos : de advertência, intimidação, entrega, amizade, jogo, corte, cooperação, etc. São capazes, inclusive, de se comunicar simbolicamente. Lorenz mostrou que uma femea de ganso pode manifestar sua preferência por um macho simulando a necessidade de proteção. O mordiscar do animal significa o oposto do morder : comportamento lúdico, manifestação de agrado. Como já disse Morin o galinheiro não é um harém desordenado, submetido ao galo, mas uma sociedade hierarquizada ; nem a matilha é uma horda conduzida por um lobo dominador; mas uma sociedade em que a hierarquia se estabelece segundo um ritual de submissão e que sabe usar estratégia coletiva em situações de ataque e defesa. O mesmo Morin insiste em afirmar que "a sociedade, concebida como organização complexa de indivíduos diversos, fundada, ao mesmo tempo, sobre a competição e a solidariedade, comportando um sistema de comunicações rico, é um fenômeno extremamente comum na natureza ". O tipo de sociedade animal varia não somente conforme a espécie mas quanto ao meio em que está situada. Na densa floresta, rica em alimentos, os chipanzés estabelecem uma ordem social descentralizada e permissiva. Nas savanas, onde existe menos abundância e mais perigos, a estrutura social torna-se rígida e centralizada. A comunicação, a produção de ritos e a capacidade de simbolizar também não são particularidades humanas, tendo raízes oriundas na longa evolução das espécies. Nossa sociedade é apenas uma variante surgida no extraordinário desenvolvimento do fenômeno social natural. Não deve, por isso,surpreender o grande número de trabalhos científicos que demonstra a importância da companhia de outros animais para a saúde física e mental dos homens. Vários estudos atestam que esse convívio pode atenuar reações depressivas e sentimentos de inutilidade, sobretudo para os que vivem isolados ou não conseguem manter relações sociais estáveis.
O próprio Freud realçou o valor da amizade com os animais : "... isto explica por que se pode amar um animal com uma intensidade tão extraordinária ; nutrir por eles uma afeição sem ambivalência, simples e livre dos conflitos quase intransponíveis da civilização ...Ter um sentimento de afinidade íntima, de verdadeira solidariedade ". Inúmeras pesquisas concluíram que falar e acariciar um animal é uma ação que beneficia a saúde de quem a pratica; pode provocar, no sistema cardiovascular, uma estimulação por vezes mais favorável do que a gerada por uma relação com seres humanos. Estudos bem controlados chegam a afirmar que esse convívio aumenta a proteção contra as pressões psicológicas, provocadas pelos problemas da vida diária.E também pode contribuir para melhorar a capacidade dos parceiros humanos de enfrentar infecções e doenças. Sabe-se que a solidão provoca ou agrava, seriamente, muitas enfermidades. Por isso muitos idosos, privados do apoio afetivo de que precisam, podem colher grandes benefícios desse convívio excepcional. Existem instituições que criam gatos, cachorros e pássaros com a finalidade de propiciar estímulos afetivos e companhia, para seus hóspedes e assistidos. É agora fato indiscutível que os animais domésticos podem dar uma contribuição importante para a socialização humana, com benéficas consequências para o relacionamento do homem com seus semelhantes. Mas a melhor fase para o início desse relacionamento são os primeiros anos de vida. Essa convivência fortalece os vínculos com o mundo natural; além de ensinar a criança a respeitar a natureza e todos os seres vivos, contribui para elevar o seu senso de responsabilidade e a autoconfiança.
http://aaciolitravessia.blogspot.com/2009/06/nossos-amigos-os-animais.html