quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Força da escassez

Alvaro Acioli
Um preconceito a ser vencido, no debate sobre a conservação da natureza, é o de que se trata de um tema da modernidade.
Platão já discutia o assunto, quatro séculos antes da era cristã. Dados disponíveis mostram que o homem atua sobre os ecossistemas, há cerca de 7.500 anos ; ele desmata desde que utiliza o fogo para limpar seus terrenos de caça.
Mas a bem da verdade a espécie humana tem contribuído, para a conservação e o progresso, desde que habita a bioesfera.
Abrindo clareiras, cultivando encostas, irrigando desertos, pesquisando variedades, domesticando animais, o homem diversificou os cenários primitivos e tambén multiplicou as possibilidades de evolução, para um inestimável número de espécies.
Muitas das paisagens mais bonitas da terra foram criadas pela sensibilidade e pelas mãos do homem.
Os organismos vivos, incluindo o homem, pertencem a sistemas ecológicos que se influenciam mutuamente. A humanidade tem de conciliar o progresso tecnológico com a preservação do patrimônio genético, assegurando a continuidade do processo evolutivo.
A bioesfera continua a ser inundada por substâncias não recicláveis e de efeitos imprevisíveis ; é impiedosa a destruição das espécies animais ; a exploração iresponsável dos ecossistemas está violando o equilíbrio natural.
Mas para que isso se torne possível é preciso que os mais necessitados resolvam os seus problemas básicos : abrigo, comida e trabalho. E que os mais favorecidos controlem sua voracidade cumulativa. Só então os ecossistemas serão explorados em benefício de toda a humanidade, sem ameaças às bases de seu funcionamento nem à sua biodiversidade.
Há mais ou menos três décadas diversos organismos internacionais anunciaram que até o ano 2.000 os homens situados “abaixo da linha da pobreza” encontrariam trabalho e remuneração digna.
Foi um sonho demasiado ousado imaginar que os detentores do poder e do capital iam implementar os meios capazes de erradicar a miséria do planeta, promovendo modelos sustentáveis de desenvolvimento.
Hoje, já transcorridos sete anos desse olimpo idealizado, a realidade planetária mostra sinais ainda mais acentuados de degradação social.
Os fantasmas da fome e do desemprego atacam agora no quintal das nações ricas, no primeiro mundo. O aumento da exclusão provoca a crescente informalidade da economia mundial e uma verdadeira invasão dos centros urbanos, das grandes metrópoles.
As forças incontroláveis que emergem da escassez vão definir o destino não apenas dos países, mas da própria humanidade. Comungo com o sábio Milton Santos : "A convivência com a escassez para os não possuidores é aflitiva porque, para os pobres, viver no mundo do consumo é como subir uma escada rolante no sentido da descida. Não há negociação possível. É por isso que as experiências entre os pobres se renovam. E é essa prontidão dos sentidos que lhes faz ter o sentido da história".
A sabedoria do momento presente está com os menos favorecidos, que são - de fato - os verdadeiros protagonistas do processo histórico e político.





Caminhos da reconstrução

Alvaro Acioli
O que vai definir a face da sociedade futura será a capacidade humana de superar a finitude da existência, aprendendo a realizar-se dentro dos limites que a vida social impõe. Desconhecendo essas condicionais o homem perpetuará seus conflitos e perderá, definitivamente, a chance de aperçoar sua humanização. Para vencer a tragédia de sua finitude, o homem tem que decidir-se a assumí-la definitivamente. Somente assim ele reencontrará as condições capazes de restabelecer seu amor pela vida.Uma socialização nova deve vincular direitos e responsabilidades humanas. Para tanto urge consagrar de que todas as existências são interdependentes. Estamos condenados à coexistência. Qualquer afirmação particular começa pelo respeito à dignidade do semelhante. Fora desses princípios é praticamente impossível evitar a perpetuação do desencontro humano.Diante dos extraordinários avanços tecnológicos, a instrução deve continuar sendo a principal função do Estado. Mas a educação, indispensável para o aproveitamento adequado da instrução, permanece como a grande missão da família. Principalmente a iniciação dos usos e costumes, das normas e comportamentos, das hierarquias e dos valores. Além dos cuidados físicos cabe ainda à família dar amor e proteção. A educação tem de ser repensada mais em termos de trajetória que de objetivos; como eu vou e não para onde eu vou. Os problemas da vida precisam ser ensinados como ocorrências possíveis,que podem contribuir para o crescimento pessoal, se abordados adequadamente.Constata-se que a atuação humana perdeu a expontaneidade. Até os gestos mais simples reproduzem padrões condicionados, sejam conceitos ou preconceitos. O homem já encontra, ao nascer, compromissos definidos, sendo-lhe crescentemente dificil viver os infinitos padrões e caminhos recomendados. E o impacto causado pela tecnologia da informação relativizou a realização de todos os papeis sociais. O comportamento assumido, em função da experiência, foi substituído pela representação recomendada. Antes a vivência revelava nossas motivações íntimas, o que facilitava a compreensão. Hoje os modismos forçam uma obediência automática. Cumprir as regras, sem discutí-las, e amedrontar-se ante as verdades consagradas, são realidades comportamentais, quase absolutas.Acabamos escravizados pelas máquinas que criamos para dominar os animais. Antes do grande salto as mudanças era lentas ; mantinham-se por muitas gerações. Hoje, conceitos e valores, discutíveis, geram critérios cada vez mais precários. Do bom ao mal, do moral ao imoral, do certo ao errado, tudo se tornou questionável. O viver complicou-se extraordinariamente e todos precisam agora de reorientar suas existências. O natural, o simples, precisa ser redescoberto. Cabe indagar: o homem terá ainda tempo para transformar-se, apesar da relação indefinida entre ele e seu mundo? Consegirá esse mesmo homem defender-se da ação do tempo, que ameaça afundá-lo no anonimato e na banalidade? Como ele pode prevenir-se e proteger-se do indiferentismo, da dispersão, da infidelidade a sí mesmo?A ampliação da liberdade humana surje como um caminho importante para a própria reconstrução. E como se pode atingir esse objetivo ? Penso que treis pontos são da maior importânica, na redefinição da socialização humana : 1. Consagrar a motivação como o fundamento do aprendizado; 2. Aceitar que a frustração é um elemento básico na variabilidade do comportamento; 3. Entender que educar é contribuir para outras individualidades e não uma chance para o educador reescrever a sua própria história.Um dia mestre Malraux advertiu: "A liberdade a que me considera ter direito é a tua. A liberdade de fazer o que te agrada. A liberdade não é uma permuta - é a liberdade". Somente livre, de fato, o homem pode encontrar o seu destino, realizar sua tarefa, plasmar sua forma, a da comunidade e a do mundo. E essa liberdade só é conquistada quando o homem descobre que ela é fundamental.


English Espanhol François Italiano

SEM ESTRESSE

*ALLAN* ANGELI *ANGELITOS* BOM-DE-HUMOR * BRAZIL-CARTOON* DIVERTUDO * GALHARDO* GLAUCO* HUMOR TARDELA * HUMOR-UOL* MILLÔR* STOCKER* TULIPIO* HUMOR DA TERRA * JOÃO BOSCO *Saber*