Manoel Fernandes Neto
"Histórias muito melosas
não tocarão as pessoas."
A missão de Judy Rodgers é louvável. A comunicadora tem um compromisso com a esperança e com o otimismo na conscientização dos meios de comunicação de massa, campanhas publicitárias e mensagens que são despejadas, diariamente, em busca de leitores e consumidores. O desafio é colossal; mas o caminho escolhido por ela agiganta-se com a organização de conversações proativas com produtores de conteúdo e diretores de empresas de comunicação.
NovaE.inf.br - Como cobrir um fato como o recente acidente aéreo ocorrido no Brasil com um avião da empresa TAM, que vitimou 200 pessoas, e que em si nos traz uma avalanche de imagens negativas e desdobramentos políticos? Como manter a voz da esperança?
Judy Rodgers - Em tragédias como a do acidente da TAM, é claro que há imensa tristeza e pesar, e com certeza é preciso entender as causas. Porém, em muitas tragédias existem histórias de heróis que rapidamente aparecem para ajudar - em terremotos, inundações e acidentes onde não há morte instantânea para todos os envolvidos. Pode ser muito inspirador para as sociedades ouvir as histórias de heroísmo e grandeza, bem como os fatos da tragédia.
NovaE.inf.br - O pacifista e escritor israelense Amós Oz diz, em seu livro "How to Cure a Fanatic", de 2002, que o contrário da guerra não é o amor, não é a compaixão, não é a generosidade ou a fraternidade. O contrário da guerra, diz ele, é a Paz. Como esta visão racional pode ser sugerida aos dirigentes dos meios de comunicação de massa, quando estes constroem uma mídia extremamente emocional, para o bem e para o mal, visando unicamente aumentar a audiência e criar um véu invisível de alienação no público? Judy Rodgers - O erro que cometem muitos dos tomadores de decisão na mídia é o pensamento de que as únicas emoções que atraem o público são as de medo, tristeza e raiva. Existem outras emoções, como admiração, respeito, gratidão, alegria, grandeza, amor, generosidade, etc. Elas são extremamente interessantes para as pessoas, quando as histórias são bem escritas. Às vezes nós, que somos da mídia, nos esquecemos de que as histórias devem ser fortes e bem escritas – histórias muito "melosas" não tocarão as pessoas. Mas histórias bem escritas, que envolvem as emoções positivas das pessoas, podem ser muito poderosas. NovaE.inf.br - Estudiosos da mídia e grupos de discussão na Internet apontam um fundamentalismo midiático do mundo, que seguem a doutrina estadunidense de defesa intransigente de "valores ocidentais" baseada em três pilares: enaltecer o consumo, desprezar atitudes em defesa do Planeta e comemorar uma cultura hedonista acima de valores espirituais. Já existem exemplos que contrariem esta realidade?
Judy Rodgers - Eu acho que ajuda pegarmos esses “três pilares”, individualmente. Com relação a enaltecer o consumo, podemos começar aqui com as empresas e agências de propaganda. Um bom exemplo é a mudança que a Unilever da Holanda fez recentemente, com sua campanha do Dove, “Beleza Verdadeira”, para o sabonete Dove. Esta campanha, que de fato vende sabonete, tem focado nos 5 últimos anos, ou algo em torno disso, em novas imagens de beleza – além de mulheres bonitas e magras.
Agora, a Unilever foi além, com sua nova campanha sobre “Beleza Interior”, na qual eles visam chamar a atenção para o problema de distúrbios alimentares nas mulheres. Outro lugar em que podemos encontrar exemplos é a McCann Erickson, Chile. O diretor-geral, Pablo Walker, e a vice-presidente de planejamento, Maribel Vidal, tomaram uma verdadeira liderança na mudança dos princípios da propaganda com relação a enaltecer o consumo. Quanto a desprezar as atitudes em defesa do Planeta, isto simplesmente não é mais verdade. Foi até dois anos atrás, mas agora há muitos exemplos na mídia liderando o caminho na defesa do Planeta. Há muitos para mencionar aqui, na verdade. Há, agora, o famoso filme de Al Gore sobre “Uma verdade inconveniente”; existem revistas como a Yes! www.yesmagazine.org ; Ode www.odemagazine.net ; e GreenBiz www.greenbiz.com . Há séries de TV, como Mercado Ético, sendo produzidas no Brasil por Christina Carvalho Pinto, etc. Há também muitas fontes de mídia que enfatizam os valores espirituais – especialmente na Holanda e nos Estados Unidos. NovaE.inf.br - No Brasil, poucas famílias detêm o monopólio de comunicação. Como convencer tais interesses sobre a importância de atitudes que despertem a formação do Ser Integral e esclarecido, quando o que está em jogo, para esses empresários, é o poder político e o aumento da receita publicitária, ficando em um plano bem secundário intenções dignas como o do IVE?
Judy Rodgers - O Imagens e Vozes de Esperança nunca se opôs ao fato de os negócios da mídia terem lucro. Todos nós, que trabalhamos na mídia há anos, entendemos que essas não são (para a maioria) transações filantrópicas. Nós também achamos que aqueles que possuem negócios de mídia têm as mesmas esperanças e sonhos para suas famílias e para o Planeta, como todos têm. É por isso que usamos o diálogo como um método de entrosamento quanto à melhor forma de prosseguir.
http://aaciolitravessia.blogspot.com/2008/05/imagens-e-vozes-da-esperana.html
Manoel Fernandes Neto é jornalista e editor da revista NovaE (
http://www.novae.inf.br/ )