sexta-feira, 28 de março de 2008

A bomba da informação

A saúde mental depende de fatores políticos, econômicos, ambientais, antropológicos, sociológicos, psicológicos e biológicos. Somente em parte é o resultado de ações ou procedimentos realizados na área médico-sanitária.
A vulnerabilidade a uma enfermidade mental e a evolução do padecimento guarda uma relação direta com a qualidade da vida social dos atingidos. O envelhecimento da população e a urbanização das cidades também acentuam o impacto na saúde pública e as repercussões sociais das enfermidades mentais.
A ONU e seus organismos especiais, como a OMS, têm tido uma extrema dificuldade para enfrentar os fenômenos simultâneos de globalização e fragmentação, característicos do mundo atual, que têm reflexos indiscutíveis sobre todas as dimensões relacionadas com a saúde do homem contemporâneo. .
Já existia no século XIX uma comunicação mundial. Era, porém um processo lento, caro e limitado, em termos de quantidade de informação. Para exemplificar basta dizer que a Europa só soube do assassinato de Lincoln, treze dias depois de ocorrido o fato. Hoje bastam treze segundos para que qualquer acontecimento repercuta em todo o universo.
O que caracteriza o atual estágio da globalização são a velocidade, a facilidade e a precisão com que a informação percorre o mundo. A crise do mercado internacionalizado espalha o pânico e a incerteza, por todos os lados. E a racionalidade econômica, que não se preocupa com o destino do homem, favorece o recrudescimento de todas as modalidades de irracionalismo. Existe uma oposição absoluta entre o mercantilismo que busca a maximização da produtividade e do lucro e as necessidades dos trabalhadores, em termos de saúde, condições psicossociais e qualidade de vida. Pobreza, subemprego, desemprego, problemas familiares, desastres causados pelo homem ou por eventos naturais, violência contra as mulheres, as crianças e os velhos, são alguns fatores que influenciam negativamente a saúde mental.
Será que a globalização vai acabar unificando o pensamento mundial, gerando um consenso asfixiante? Curiosamente a globalização tem ensejado também o aparecimento de tendências opostas. No campo da música e da literatura, culturas de minorias étnicas, regionais e nacionais, ganharam uma aceitação expressiva no mercado.
Em verdade as manifestações culturais típicas, pelo seu extraordinário dinamismo, sempre resistiram aos impactos tecnológicos, como ocorreu no advento da imprensa, do rádio e da televisão.
Mas o último relatório da ONU, sobre o desenvolvimento humano é bem preocupante; mostra que a globalização não beneficia a todos, de maneira uniforme. Uns ganham excessivamente, outros muito pouco e a grande maioria perde.
Nas megacidades globais a prosperidade contrasta com formas gritantes de miséria, com índices brutais de exclusão. A deterioração do quadro social, causada pelo aprofundamento da crise econômica e pela globalização, está redefinindo a natureza da questão urbana, também em nosso país, ampliando os desafios, sobretudo os colocados pela saúde mental. A ruptura do tecido urbano e a expansão da ilegalidade obrigam uma urgente reavaliação crítica e novos pressupostos teóricos.
Os arautos da globalização continuam prometendo uma nova vida, para todos, com a internacionalização da cultura e da tecnologia. Mas os descrentes, como Paul Virilio, acham que na era da tele-tecnologia o tempo real virou mundial, transformando-se num tempo histórico sem referência. Para ele os acidentes também se universalizam; a bomba da informação, além dos danos irreparáveis que está causando à saúde mental dos povos, em todo o mundo, pode tornar-se mais destruidora que a lançada sobre Hiroxima.


AAcioli

domingo, 23 de março de 2008

Canibalismo intolerável

Ao longo do tempo os avanços tecnológicos marcaram a forma com que os homens viam e sentiam a vida social. Mas foi sempre possível constatar que o ciclo das inovações tecnológicas padecia de um pecado original: cada problema que resolviam outros mais inquietantes causava. E como hoje não existe quase intervalo entre as novidades científicas e sua aplicação prática, esse fenômeno se agrava continuadamente. Qualquer nova descoberta faz com que o "marketing" passe a considerar ultrapassadas as máquinas e os instrumentos que representam a solução tecnológica imediatamente anterior. Uma recente frase, de Bill Gattes, consagra esse consumismo irracional: “nossa meta é tornar os nossos produtos obsoletos antes que os concorrentes o façam”. Uma conseqüência crítica, da evolução tecnológica, foi à aceleração da migração em direção aos centros urbanos. Essa onda incontrolável reúne uma crescente legião de desesperados. Ávidos por usufruir os benefícios do progresso eles invadem a periferia das cidades mais desenvolvidas ou supostamente com melhores condições de vida e trabalho. A solução, obviamente, está na criação de estímulos inversos, capazes de possibilitar a fixação desses migrantes no campo. Mas isso esbarra em dificuldades políticas históricas, decorrentes da estrutura agrária medieval de nosso país. Enquanto isso não se viabiliza, urge intensificar o trabalho de integração dos aglomerados urbanos periféricos consolidados, assegurando-lhes os serviços públicos básicos: saneamento, assistência médica, água, luz e amparo legal. Os projetos já executados, em nosso meio, transformando favelas em bairros, demonstraram que essa empreitada inadiável custa menos de dois salários mínimos, por habitante. Há quase dez anos já dizia o economista Carlos Lessa: “Caso se colocasse”, como meta anual, atender a quatro milhões de pessoas, no conjunto das cidades brasileiras, o gasto seria de dois bilhões de dólares por ano; no final de 10 anos, alcançaríamos um total de 40 milhões de beneficiários, a um custo de 20 bilhões de dólares... o que representa apenas 7% do produto interno bruto (PIB). Só tentativa infeliz de salvar o real, da especulação monetária, que de nada valeu, o governo federal desperdiçou o que daria para custear projetos de inestimável alcance social. No universo do consumo o que consagra a distinção é a posse de um bem e não o seu uso; por isso o desejar é muito mais importante do que o possuir. Ora, numa sociedade de pobres e miseráveis, completamente desamparados, os que têm êxito tornam-se um modelo absoluto do desejo. E esse sentimento aumenta a necessidade de dominar o outro ou até mesmo eliminá-lo, sempre que ele representa um obstáculo à realização desses objetivos idealizados. Esse desejo incontrolável e o medo social epidêmico explicam o crescimento de tudo o que é clandestino e ilegal, pela necessidade, quase incontrolável, de transgredir princípios, estatutos ou leis. Mas o recrudescimento de todas as formas de extremismos é, certamente, a manifestação mais assustadora, na atual escalada dos conflitos sociais. É um fato que está tornando caótica a realidade urbana, contrapondo verdadeiros “neoestados” ao Estado legal. No hipermercado social contemporâneo os problemas do viver e do sobreviver ameaçam seriamente a saúde mental de todos os cidadãos. E esse estado de coisas está se agravando com a irrupção universal de múltiplas formas de violência, fazendo com que o comportamento humano oscile entre o destemor irracional e o pavor paralisante. Chegamos ao que Mario de Andrade profetizou: a um grau de canibalismo social intolerável. A ferocidade é o sentimento que identifica os que muito tem com os que nada possuem; os “territórios”, grandes ou minúsculos, são defendidos com o mesmo primitivismo e brutalidade. E nada tem conseguido impedir a multiplicação dos comportamentos mais regressivos.

O simples e a liberdade

O que vai definir a sociedade futura será a capacidade humana de realizar-se dentro dos limites impostos pela realidade social. O homem terá que aprender a comprometer-se com seu momento existencial, apesar das dificuldades que o atormentam. Somente assim ele conseguirá aumentar o seu prazer de viver.
A recusa de assumir as limitações do cotidiano levará o homem a perpetuar os seus conflitos. E ele pode acabar por perder, definitivamente, a chance de aperfeiçoar a sua própria humanidade. Os problemas da vida precisam ser enfrentados como ocorrências inevitáveis que podem contribuir para o crescimento pessoal, se adequadamente abordados.
Todas as formas de vida são interdependentes; estamos condenados à coexistência. Por isso a criação de um novo modelo social exige que se vinculem direitos e responsabilidades humanas. O crescimento individual obriga o respeito à dignidade do outro. Fora desse fundamento é impossível evitar que se eternize o desencontro atual.
O ser humano já encontra, ao nascer, compromissos definidos, sendo-lhe crescentemente difícil viver os infinitos padrões e caminhos recomendados. E o impacto causado pela tecnologia da informação dificulta a realização de todos os papeis sociais. Constata-se, por todos os lados, uma perda de espontaneidade. Até os gestos mais simples reproduzem padrões condicionados.
O comportamento assumido, em função da experiência, foi substituído pela representação recomendada. Antes a vivência revelava nossas motivações íntimas, facilitando a compreensão. Agora os modismos forçam uma obediência automática. Cumprir as regras, sem discuti-las e amedrontar-se ante as verdades consagradas, são hoje realidades comportamentais quase absolutas.
O homem está escravizado pelas máquinas criadas para dominar os animais. Antes do grande salto as mudanças eram lentas; mantinham-se por muitas gerações. Hoje, conceitos e valores discutíveis geram critérios cada vez mais precários. Do bom ao mal, do moral ao imoral, do certo ao errado, tudo se tornou questionável. O viver complicou-se extraordinariamente e todos precisam agora rever idéias e conceitos ou preconceitos.
Diante dos extraordinários avanços tecnológicos a instrução deve continuar sendo a principal função do Estado. Mas a educação, indispensável para o aproveitamento adequado da instrução, continua sendo a grande missão do grupo sócio-familiar. Principalmente a iniciação dos usos e costumes, das normas e comportamentos, das hierarquias e dos valores. Mais do que cuidados físicos cabe à família dar amor e proteção. E é preciso educar cuidando os objetivos e os métodos adotados; os fins costumam reproduzir os meios usados para atingi-los.
É hora de indagar: poderá ainda o homem restabelecer uma relação harmônica com seu mundo? Conseguirá esse mesmo homem defender-se da ação do tempo, que ameaça afundá-lo no anonimato e na banalidade? Como ele pode prevenir-se e proteger-se do indiferentismo, da dispersão, da infidelidade a si mesmo?
A ampliação da liberdade é o caminho para a redefinição da socialização humana.
Mas é bom lembrar a advertência de Malraux : "A liberdade a que me considera ter direito é a tua ; a liberdade de fazer o que te agrada. A liberdade não é uma permuta - é a liberdade". E essa liberdade só é conquistada quando o homem consegue redescobrir o natural e o simples.
AAcioli

sexta-feira, 7 de março de 2008

Arte de Tolerar

O recrudescimento de todas as formas de violência é o traço comum, do momento histórico que estamos vivendo. É o paradigma do instante social, cheio de comportamentos e circunstâncias contraditórias. As descobertas científicas, tão ardentemente buscadas, não distribuíram, por todos os homens, de forma equitativa, os extraordinários frutos do progresso alcançado. Como consequência desse fato, em pleno século XXI, ainda existem sociedades que continuam caçando e colhendo, como o faziam seus antepassados, no tempo das cavernas. As divergências éticas, econômicas e políticas se acentuam, dificultando o entendimento e a intercolaboração entre os homens. Os fanatismos religiosos multiplicados também reduzem a capacidade de grupos e nações aceitarem “verdades” que estejam fora dos dogmas que professam. A intolerância está na base desse desacordo generalizado em que se encontra lançado o mundo. A intolerância e não a Aids é o grande mal desse século. Mal que é responsável pela morte de todos os famintos do mundo e dos que se matam, irmãos ou não, sob qualquer pretexto. Intolerância que deixa sucumbirem à mingua inocentes no Sudão, na Etiopia, em Biafra, no nordeste brasileiro, no miserável Leste europeu ou na pobre América Central ; também responsável pelas mortes que estão ocorrendo no Iraque, no Congo, Haití, Paquistão, no Líbano e em muitas outras terras e continentes. Intolerância que perpetua o ódio entre árabes e judeus e que nutre o gérmen causador de todas as guerras entre Estados, seitas e ideologias. Intolerância que dissemina a dominação e o genocídio, que transforma o outro em inimigo irreconciliável, pelo simples fato de ser outro. Intolerância que repudia os diferentes e as minorias, que cultua a unanimidade, que se opõe a manifestações autênticas de afirmação e liberdade. . Intolerância fascinada pelo poder absoluto sobre os homens, seus territórios e seus pensamentos . Aperfeiçoar a arte de tolerar tornou-se uma providência decisiva, nessa quadra atormentada da história. Não se trata de tolerância diante dos poderosos, sempre à espera de “consentimentos oficiais” para manifestar-se, pois isso é apenas conformismo e acomodação. O destino do homem depende agora, fundamentalmente, de uma tolerância comprometida com os direitos humanos, tanto os próprios quanto os alheios; uma tolerância capaz de respeitá-los, acima das circunstâncias e das conveniências. Uma tolerância preocupada em ajudar a humanidade a beneficiar-se justamente da diversidade no pensar e no agir. Mas a grande maioria dos homens tem julgado ser quase impossível agir dessa forma. E esse é justamente o desafio maior que o exercício da tolerância coloca : ser possível e parecer, ao mesmo tempo, uma utopia.
AAcioli
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SEM ESTRESSE

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