O que vai definir a sociedade futura será a capacidade humana de realizar-se dentro dos limites impostos pela realidade social. O homem terá que aprender a comprometer-se com seu momento existencial, apesar das dificuldades que o atormentam. Somente assim ele conseguirá aumentar o seu prazer de viver.
A recusa de assumir as limitações do cotidiano levará o homem a perpetuar os seus conflitos. E ele pode acabar por perder, definitivamente, a chance de aperfeiçoar a sua própria humanidade. Os problemas da vida precisam ser enfrentados como ocorrências inevitáveis que podem contribuir para o crescimento pessoal, se adequadamente abordados.
Todas as formas de vida são interdependentes; estamos condenados à coexistência. Por isso a criação de um novo modelo social exige que se vinculem direitos e responsabilidades humanas. O crescimento individual obriga o respeito à dignidade do outro. Fora desse fundamento é impossível evitar que se eternize o desencontro atual.
O ser humano já encontra, ao nascer, compromissos definidos, sendo-lhe crescentemente difícil viver os infinitos padrões e caminhos recomendados. E o impacto causado pela tecnologia da informação dificulta a realização de todos os papeis sociais. Constata-se, por todos os lados, uma perda de espontaneidade. Até os gestos mais simples reproduzem padrões condicionados.
O comportamento assumido, em função da experiência, foi substituído pela representação recomendada. Antes a vivência revelava nossas motivações íntimas, facilitando a compreensão. Agora os modismos forçam uma obediência automática. Cumprir as regras, sem discuti-las e amedrontar-se ante as verdades consagradas, são hoje realidades comportamentais quase absolutas.
O homem está escravizado pelas máquinas criadas para dominar os animais. Antes do grande salto as mudanças eram lentas; mantinham-se por muitas gerações. Hoje, conceitos e valores discutíveis geram critérios cada vez mais precários. Do bom ao mal, do moral ao imoral, do certo ao errado, tudo se tornou questionável. O viver complicou-se extraordinariamente e todos precisam agora rever idéias e conceitos ou preconceitos.
Diante dos extraordinários avanços tecnológicos a instrução deve continuar sendo a principal função do Estado. Mas a educação, indispensável para o aproveitamento adequado da instrução, continua sendo a grande missão do grupo sócio-familiar. Principalmente a iniciação dos usos e costumes, das normas e comportamentos, das hierarquias e dos valores. Mais do que cuidados físicos cabe à família dar amor e proteção. E é preciso educar cuidando os objetivos e os métodos adotados; os fins costumam reproduzir os meios usados para atingi-los.
É hora de indagar: poderá ainda o homem restabelecer uma relação harmônica com seu mundo? Conseguirá esse mesmo homem defender-se da ação do tempo, que ameaça afundá-lo no anonimato e na banalidade? Como ele pode prevenir-se e proteger-se do indiferentismo, da dispersão, da infidelidade a si mesmo?
A ampliação da liberdade é o caminho para a redefinição da socialização humana.
Mas é bom lembrar a advertência de Malraux : "A liberdade a que me considera ter direito é a tua ; a liberdade de fazer o que te agrada. A liberdade não é uma permuta - é a liberdade". E essa liberdade só é conquistada quando o homem consegue redescobrir o natural e o simples.
AAcioli
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