A vulnerabilidade a uma enfermidade mental e a evolução do padecimento guarda uma relação direta com a qualidade da vida social dos atingidos. O envelhecimento da população e a urbanização das cidades também acentuam o impacto na saúde pública e as repercussões sociais das enfermidades mentais.
A ONU e seus organismos especiais, como a OMS, têm tido uma extrema dificuldade para enfrentar os fenômenos simultâneos de globalização e fragmentação, característicos do mundo atual, que têm reflexos indiscutíveis sobre todas as dimensões relacionadas com a saúde do homem contemporâneo. .
Já existia no século XIX uma comunicação mundial. Era, porém um processo lento, caro e limitado, em termos de quantidade de informação. Para exemplificar basta dizer que a Europa só soube do assassinato de Lincoln, treze dias depois de ocorrido o fato. Hoje bastam treze segundos para que qualquer acontecimento repercuta em todo o universo.
O que caracteriza o atual estágio da globalização são a velocidade, a facilidade e a precisão com que a informação percorre o mundo. A crise do mercado internacionalizado espalha o pânico e a incerteza, por todos os lados. E a racionalidade econômica, que não se preocupa com o destino do homem, favorece o recrudescimento de todas as modalidades de irracionalismo. Existe uma oposição absoluta entre o mercantilismo que busca a maximização da produtividade e do lucro e as necessidades dos trabalhadores, em termos de saúde, condições psicossociais e qualidade de vida. Pobreza, subemprego, desemprego, problemas familiares, desastres causados pelo homem ou por eventos naturais, violência contra as mulheres, as crianças e os velhos, são alguns fatores que influenciam negativamente a saúde mental.
Será que a globalização vai acabar unificando o pensamento mundial, gerando um consenso asfixiante? Curiosamente a globalização tem ensejado também o aparecimento de tendências opostas. No campo da música e da literatura, culturas de minorias étnicas, regionais e nacionais, ganharam uma aceitação expressiva no mercado.
Em verdade as manifestações culturais típicas, pelo seu extraordinário dinamismo, sempre resistiram aos impactos tecnológicos, como ocorreu no advento da imprensa, do rádio e da televisão.
Mas o último relatório da ONU, sobre o desenvolvimento humano é bem preocupante; mostra que a globalização não beneficia a todos, de maneira uniforme. Uns ganham excessivamente, outros muito pouco e a grande maioria perde.
Nas megacidades globais a prosperidade contrasta com formas gritantes de miséria, com índices brutais de exclusão. A deterioração do quadro social, causada pelo aprofundamento da crise econômica e pela globalização, está redefinindo a natureza da questão urbana, também em nosso país, ampliando os desafios, sobretudo os colocados pela saúde mental. A ruptura do tecido urbano e a expansão da ilegalidade obrigam uma urgente reavaliação crítica e novos pressupostos teóricos.
Os arautos da globalização continuam prometendo uma nova vida, para todos, com a internacionalização da cultura e da tecnologia. Mas os descrentes, como Paul Virilio, acham que na era da tele-tecnologia o tempo real virou mundial, transformando-se num tempo histórico sem referência. Para ele os acidentes também se universalizam; a bomba da informação, além dos danos irreparáveis que está causando à saúde mental dos povos, em todo o mundo, pode tornar-se mais destruidora que a lançada sobre Hiroxima.