O progresso que tornou possível o surgimento das cidades agora ameaça a própria sobrevivência urbana. A superpopulação, o congestionamento nos transportes, a abusiva exploração dos recursos não-renováveis, a extinção da vida pela ação das máquinas e de seus produtos, acentuam o sofrimento dos cidadãos, criando problemas quase intransponíveis.
O selvagem moderno, completamente desorientado, é estimulado e doutrinado a tornar o consumo do falso progresso a sua própria razão de ser. E isso o torna prisioneiro da ilusão de que o futuro sonhado virou a sua própria realidade ; como conseqüência imagina-se com um poder ilimitado sobre o seu ecossistema.
Mas o progresso exclusivamente material não é o principal objetivo do selvagem contemporâneo, embora tudo leve a supor. A ferocidade com que o homem atua é uma maneira de encobrir a sua dificuldade de afirmar-se no universo mágico que ainda domina a sua relação com o mundo das formas e das coisas.
Na ânsia de manter esse neo-primitivo deslumbrado com suas descobertas, a ciência moderna perdeu o controle sobre as informações que dissemina. Em conseqüência desse fato o selvagem atual passou a experimentar uma espécie de pânico científico permanente.
Hoje são as máquinas, a Cibernética, a Astronáutica, a Física, a Química e a Biologia molecular que decidem o que o homem deve "sentir-se sendo" ou em que verdades deve acreditar.
Mas a tecnologia criou um ambiente material sofisticado que infelicita não somente os que são impedidos de consumir os seus bens, pôr discriminação econômica, mas os próprios privilegiados do sistema, que acabam desenvolvendo uma insatisfação semelhante, ou até mais grave, que a dos excluídos.
Nos barracos da periferia urbana a grande parcela sofre pela absoluta impossibilidade de consumir. E nos palácios encantados, dos bairros exclusivos, uma pequena minoria se desespera porque também não consegue saciar a sua fome de consumo.
O sofrimento crescente da sociedade tecnológica mostra que a vida no mundo natural não pode resumir-se às experiências propiciadas pelos sentidos humanos.
Outra situação paradoxal acompanha a experiência científica do homem : as descobertas que faz multiplicam os mistérios à sua frente. Quanto mais o homem exalta o valor prático das suas descobertas científicas mais desconhecidos desafiam o seu entendimento. E é para disfarçar a angústia, que esse fato provoca, que o homem sacraliza o valor de suas pesquisas ; mas a ciência que tenta explicar os mistérios do ser e o misticismo que busca experimentá-los são formas complementares de abordar uma mesma realidade.
É preciso reconciliar o homem com a natureza, a consciência com a matéria, o interior com o exterior, o sujeito com seus objetivos. Relacionar os mundos revelados com os que permanecem desconhecidos é mais uma missão importante para a humanidade.
Utilizar as descobertas , para harmonizar a relação entre o homem e a natureza, parece a melhor maneira de reduzir as preocupações dos nossos contemporâneos assustados, ou desencantados, que sofrem nas multidões solitárias que vagam pelas ruas do mundo.