terça-feira, 12 de maio de 2009

A Força da Escassez

Álvaro Acioli

Um preconceito a ser vencido, no debate sobre a conservação da natureza, é o de que se trata de um tema da modernidade.Platão já discutia o assunto, quatro séculos antes da era cristã. Dados disponíveis mostram que o homem atua sobre os ecossistemas, há cerca de 7.500 anos ; ele desmata desde que utiliza o fogo para limpar seus terrenos de caça.Mas a bem da verdade a espécie humana tem contribuído para a conservação e o progresso, desde que habita a bioesfera. Abrindo clareiras, cultivando encostas, irrigando desertos, pesquisando variedades, domesticando animais, o homem diversificou os cenários primitivos e também multiplicou as possibilidades de evolução, para um inestimável número de espécies. Muitas das paisagens mais bonitas da terra foram criadas pela sensibilidade e pelas mãos do homem.Os organismos vivos, incluindo o homem, pertencem a sistemas ecológicos que se influenciam mutuamente. A humanidade tem de conciliar o progresso tecnológico com a preservação do patrimônio genético, assegurando a continuidade do processo evolutivo. A biosfera continua a ser inundada por substâncias não recicláveis e de efeitos imprevisíveis ; é impiedosa a destruição das espécies animais ; a exploração irresponsável dos ecossistemas está violando o equilíbrio natural.Mas para que isso se torne possível é preciso que os mais necessitados resolvam os seus problemas básicos : abrigo, comida e trabalho. E que os mais favorecidos controlem sua voracidade cumulativa.. Só então os ecossistemas serão explorados em benefício de toda a humanidade, sem ameaças às bases de seu funcionamento nem à sua biodiversidade.Há mais ou menos três décadas diversos organismos internacionais anunciaram que até o ano 2.000 os homens situados “abaixo da linha da pobreza” encontrariam trabalho e remuneração digna. Foi um sonho demasiado ousado imaginar que os detentores do poder e do capital iam implementar os meios capazes de erradicar a miséria do planeta, promovendo modelos sustentáveis de desenvolvimento.Hoje, em pleno século XXI, a realidade planetária mostra sinais ainda mais acentuados de degradação social. Continuamos bem distanciados desse olimpo idealizado. Os fantasmas da fome e do desemprego atacam agora no quintal das nações ricas, no primeiro mundo. O aumento da exclusão provoca a crescente informalidade da economia mundial e uma desesperada invasão dos centros urbanos, das grandes metrópoles. As forças incontroláveis que emergem da escassez vão definir o destino não apenas dos países, mas da própria humanidade. Comungo com o grande Milton Santos : "A convivência com a escassez para os não possuidores é aflitiva porque, para os pobres, viver no mundo do consumo é como subir uma escada rolante no sentido da descida. Não há negociação possível. É por isso que as experiências entre os pobres se renovam. E é essa prontidão dos sentidos que lhes faz ter o sentido da história". A sabedoria do momento presente está com os menos favorecidos, que são - de fato - os verdadeiros protagonistas do processo histórico e político.

Quadro de Candido Portinari

http://aaciolitravessia.blogspot.com/2009/05/forca-da-escassez.html

domingo, 10 de maio de 2009

sexta-feira, 8 de maio de 2009

terça-feira, 5 de maio de 2009

Avanços e Riscos do Saber Genético

Alvaro Acioli
Em seu livro "A loja do corpo" Andrew Kimbrell produziu uma síntese admirável, sobre os delicados problemas gerados pelos avanços genéticos: "a engenharia genética e suas implicações conduziram-nos às mais graves questões com que a humanidade já se deparou. Que é a vida? Que significa ser um humano? Os cientistas têm o direito de agir como co-gerentes da evolução? Como definir a morte e decidir o porquê de a vida valer a pena de ser vivida? Estamos prontos para aceitar um 'supermercado' de órgãos e tecidos humanos, de genes, ou até de crianças? "As pesquisas científicas sobre diagnóstico e tratamento, no campo da genética, afetam hoje o projeto de vida de todos os seres vivos. A extraordinária possibilidade criada para o homem de transformar seu semelhante coloca sérios dilemas para a nossa sociedade. Os países industrializados começam a adotar legislações visando impor limites à prática clinica, ou até a certas pesquisas, tentando garantir o respeito à dignidade humana. O problema maior não está na realização das pesquisas em si, mas na aplicação prática dos resultados alcançados. O conhecimento do mapa genético humano já realizado permite a identificação dos genes causadores das doenças mais comuns, possibilitando a criação de intervenções específicas. A grande preocupação ética refere-se aos tratamentos que modificam o patrimônio genético, originando alterações que se transmitirão de uma geração a outra.Os riscos são grandes, mas as perspectivas criadas são altamente animadoras. Abriram-se as portas da prevenção para um imenso número de enfermidades, tidas até a muito pouco tempo como fatais. Cresceram infinitamente as possibilidades de cura para a debites, múltiplas formas de câncer, certas doenças cardiovasculares e neuropsiquiátricas. Deixou de ser um sonho imaginar que o ser humano possa desfrutar de uma vida saudável, até idades bem avançadas. Podemos nos beneficiar, a curtíssimo prazo, de uma medicina personalizada, barata e muito mais eficiente. O lado triste dessa história é a identificação de probabilidade ou certeza, de doença genética, para enfermidades ainda sem solução preventiva. Porque essa situação não somente amplia o medo dos que delas padecem, como pode ensejar discriminações, de todos os tipos. A sociedade humana conheceu avanços científicos que revolucionaram todas as civilizações. E essa experiência histórica recomenda que se reprove tanto a tecnofobia quanto a sacralização da tecnologia ou seu uso irresponsável.
http://aaciolitravessia.blogspot.com/2008/01/avanos-e-riscos-do-saber-gentico.html

segunda-feira, 4 de maio de 2009

As neurociências do terceiro milênio


Mauro Maldonado
Compreender as raízes biológicas da mente humana é um dos desafios científicos mais relevantes do futuro da humanidade. Ainda na metade do século passado era impensável que biólogos e médicos pudessem explorar e compreender a natureza biológica da percepção, do aprendizado, da memória, ou, para além disso, do pensamento, da consciência e do livre arbítrio: em suma, que pudessem entender a natureza da mente humana. Na realidade, quando os historiadores das idéias efetuam o balanço das últimas duas décadas do século XX ,enfatizam o fato surpreendente de que as intuições mais preciosas a respeito da mente humana surgiram nem tanto das disciplinas tradicionalmente interessadas na mente - como a filosofia, a psicologia ou a psicanálise - quanto de sua fusão com a biologia do cérebro. Os sucessos recentes da biologia molecular fortaleceram essa síntese.
Ora, se é verdade que as abordagens celulares e biomoleculares ainda nos fornecerão informações importantes, é igualmente verdade que elas, por si sós, não podem nos revelar a complexidade dos circuitos neuronais ou de suas interações: vale dizer a passagem chave que liga as neurociências celulares e moleculares às neurociências cognitivas. Para desenvolver um método que nos permita identificar a relação entre os sistemas neuronais e as funções cognitivas complexas é necessário concentrar-se nos circuitos neuronais; descobrir como interagem seus esquemas de atividades para gerar representações coerentes; compreender a organização das redes neurais, enfim, avaliar de que maneira sua atividade é modulada pela atenção e pela consciência. Para alcançar esses objetivos, a biologia deverá se concentrar mais no homem, ou nos primatas não-humanos, usando técnicas de brain imaging capazes de revelar a atividade de cada neurônio e de cada rede neural.
A história natural da mente e da consciência caracteriza-se tipicamente por uma tendência espontânea para a complexidade. Assim como a pesquisa sobre as origens da vida em nosso planeta - sobre o que levou o elemento físico-químico a se tornar biológico -, a pesquisa sobre a relação entre cérebro e pensamento é, por definição, uma pesquisa multidisciplinar. Mas o que entendemos quando afirmamos a necessidade de tratar da biologia da mente ou dos fenômenos da consciência? Estamos falando de neurologia, de biologia molecular ou de filosofia da mente? Na realidade, estamos falando disso tudo. As neurociências do terceiro milênio estão, por sua própria natureza, destinadas a tratar de todo o espectro de domínios que vão do simples ao complexo.
Tratar de neurociências significa tratar de fenômenos em âmbito molecular: da pesquisa bioquímica de base à pesquisa aplicada, que em anos muito recentes produziu a revolução psicofarmacológica.
Tratar de neurociências significa tratar de biologia celular: da estrutura e diferenciação celular (com a inacreditável riqueza de perspectivas aberta pelos novos conhecimentos da embriologia, como exemplifica a riqueza do debate sobre as estaminais), de seu bom ou mau funcionamento, no centro não só das perspectivas de pesquisa, mas também de importantes possibilidades terapêuticas em relação a algumas das doenças de custo humano e social mais elevado.
Tratar de neurociências significa tratar de pesquisa neurológica: com um âmbito científico revolucionado e extraordinariamente renovado pelas novas técnicas de estudo do cérebro in vivo, integradas e de parâmetros múltiplos.
Tratar de neurociências significa tratar de pesquisa psicológica e psiquiátrica. As contribuições da psicanálise e da psiquiatria, assim como as que se originam geralmente do conhecimento das formas da expressão cultural, se transformam no mesmo número de campos de pesquisa para a construção de uma teoria geral do conhecimento, numa perspectiva evolucionista.




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