Na globalização ocorre uma interação funcional entre as atividades econômicas e culturais dispersas e os bens e serviços gerados por um sistema internacional, com muitos centros dinâmicos.
E esse sistema opera permanentemente com a relação entre força de trabalho e lucratividade de produtos e serviços.
É no exercício do consumo que se completa todo esse processo que se inicia com a produção; além de refletir a força de trabalho envolvida ele também viabiliza a expansão do capital empatado.
Nesse contexto global o exercício da cidadania mantém uma relação direta com as práticas do consumo: com aquilo que se adquire ou o que se pode chegar a possuir, com todos os nossos desejos e expectativas.
Ser cidadão nesse momento não é somente compartilhar determinados direitos e costumes, com os nascidos na mesma nação ou sociedade.
Tornou-se comum a referência aos consumidores como pertencendo a classe A, a classe B, a classe C, etc.
O consumo envolve agora um conjunto de processos socioculturais, relacionados com apropriação e o uso de bens e serviços.
Canclini mostrou que o consumo na sociedade global é bem mais do que o simples exercício de gostos, caprichos e aquisições irrefletidas, subordinados a julgamentos eventuais ou atitudes personalistas.
Coube-lhe também esclarecer que não são só as necessidades ou os prazeres individuais que decidem o que, como e quem consome.
A oferta de produtos e a indução publicitária para compra obedece uma cuidadosa e criteriosa estratégia que define - com extraordinária margem de acerto - quem consumirá mais ou menos.
A lógica das relações na sociedade contemporânea se constrói principalmente no consumo simbólico, que afirma e distingue os consumidores.
E a lógica que rege a apropriação dos bens simbólicos não é a da satisfação de necessidades mas a da sua escassez ou a de impedir que outros venham a possuí-los.
A arena do consumo é o lugar onde o confronto entre classes, originado pela participação desigual na estrutura produtiva, ganha continuidade através da distribuição e da apropriação de bens.
Consumir é agora participar de um cenário de disputas por aquilo que a sociedade produz e pelos modos de usá-lo. E é nesse sentido que a mídia publicitária direciona as racionalizações com que seduz os consumidores.
Os bens adquiridos informam além de preferências individuais o que cada consumidor reconhece como tendo valor de mercado e o estágio de integração ou distinção social em que ele se situa.
O automóvel, por exemplo, muito mais que um veículo, é uma peça importante da roupagem simbólica que veste o consumidor contemporâneo.
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