quarta-feira, 22 de julho de 2009

SONHO PROFÉTICO

Alvaro Acioli

A necessidade de sobreviver e afirmar-se está ameaçando seriamente a saúde mental de uma crescente maioria.
Em todos os lugares a vida social exibe os níveis mais altos de agressividade e de competição de que se tem notícia.

Constata-se uma clara dificuldade de ouvir o outro e de aceitá-lo, independentemente de quem seja, do que pensa, do que representa e do que pode oferecer.
Mas isso acontece num universo governado pelo consumo mercantilista, onde ter qualquer bem é mais importante que usá-lo.

E como os objetos de desejo mudam dia-a-dia, ao saber do marketing, o sonho se consuma no desejar e não no possuir. E a cada dia se virtualiza mais o ciclo vicioso do desejar-ter-não ter-desejar.
No fundo desse pesadelo consumista cresce uma necessidade inconsciente de dominar (consumir) o (não) semelhante ou até mesmo eliminá-lo, quando se mostra um obstáculo à realização desse sonhar delirante.

Essa voracidade consumista é compartilhada tanto pelos que têm tudo quanto pelos dêspossuidos. Por isso é que os “territórios”, grandes ou minúsculos, são defendidos com a mesma selvageria.

A insegurança geral foi de tal forma ampliada, pela imprevisibilidade social, que o desconhecido ficou ainda mais assustador. Os múltiplos medos que acossam o cidadão contemporâneo o transformam – ao mesmo tempo – em vitima e agente das práticas radicais mais variadas.

A violência é hoje a norma universal mais evidente. Um verdadeiro neo-barbarismo está levando o comportamento social a oscilar entre a indiferença apática e o primitivismo inconseqüente. Para enfrentar esse mal não adianta agravar as leis penais nem aumentar o número de cadeias.

Parece indiscutível a relação entre violência, radicalismo e privação de liberdade, sobretudo liberdade de existir com um mínimo de realização e dignidade.
O verdadeiro pano de fundo dessa onda de violência é o desrespeito aos direitos humanos, para com uma crescente maioria.

Pensando assim eu gostaria que sejam de um sonho profético as palavras do mestre Roberto Lyra : ...“Justiça é justiça social, antes de tudo ... para levar à criação de uma sociedade em que cessem a exploração e a opressão do homem pelo homem... E Direito aquele vir-a-ser que se enriquece nos movimentos de libertação das classes e grupos ascendentes e que definha nas explorações e opressões que o contradizem, mas de cujas próprias contradições brotarão as novas conquistas”.
Ilustração
Descobrimento, de Mario de Andrade

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