Trata-se mais propriamente de uma verdadeira epidemia. Certamente a epidemia mais contagiosa, de todos os tempos, contra a qual não existe qualquer tipo de remédio eficaz ou vacina capaz de promover alguma imunidade preventiva. Sabe-se, apenas, graças a estudos e pesquisas realizados, que a virulência dessa onda epidêmica é diretamente proporcional ao volume de ilusões perdidas ou à quantidade de prazer reprimido, por indivíduos e sociedades.
Um imenso hipermercado. É isto que parece ou no que se transformou esse mundo interligado que habitamos, a terra do momento global.
A capacidade de consumir é o que estabelece agora o estágio de desenvolvimento dos países e o grau de cidadania das pessoas. Mas a variedade infinita de itens, que sobram nas prateleiras, desse hipermercado, tem um custo proibitivo para a grande maioria.
Entre os milhões de produtos, que lideram suas vendas, apenas dois estão ao alcance de todos e podem ser fartamente consumidos: os medos de todos os tipos e uma imensa variedade de ilusões, das mais simples às mais deslumbrantes.
Felizmente o inconsciente coletivo foi "preparado" historicamente para esse instante. Ele está hoje, mais do que nunca, completamente erotizado pelas experiências mais arcaicas de prazer e pela tentação compulsiva de produzi-las. Também está, além disso, povoado por recordações alegres, do tempo em que o imaginário, de todos os homens, girava em torno da satisfação de seus instintos e de suas pulsões mais secretas.
Não importa que as dificuldades se acentuem no grande mercado social. E que uns morram de fome enquanto outros morrem de comer. E também que aumente, constantemente, o privilégio dos mais ricos e as desventuras dos mais pobres.
É possível observar, por todos os lados, tentativas frenéticas de escapar das forças repressoras e dos autoritarismos: ora transgredindo, ora enganando ou até mesmo deixando-se aparentemente escravizar, por tarefas ou obrigações repudiadas intimamente. Um objetivo negado dos estadistas continua sendo alcançar o poder, obter mais privilégios, para viver, ainda que de uma forma fugaz, o prazer irresponsável dos absolutamente descompromissados.
Esse confronto entre opostos faz parte de uma força dinâmica intrínseca à sociedade humana, cuja selvageria lúdica se denuncia através dos conflitos renovados entre raças, credos e ideologias. Apesar de todos os pesares o consumo do prazer continua livre no universo mental da maioria, que busca ou tenta reviver a experiência paradisíaca dos tempos de Adão e Eva. A luta entre Dionísio e Prometeu, entre prazer e realidade, vai perdurar por todos os tempos e sobreviverá a todos os saberes.
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